Mais e mais (Tony Lopes)

Mais peitos Menos despeito

Mais amor Menos rancor

Mais tudo de bom

Mais e melhores sons

Mais um pouco de você

Mais um pouco de prazer

Mais tudo que vier

Mais tudo que você quiser

Mais beijos Menos assedio

Mais paixão Menos remédio

Mais loucura Menos procura

Mais acertos Mais acenos

Mais acentos de exclamação.

Céu em lagrimas (Tony Lopes)

O mar em chamas

E a sua alma congelando

Ninguém te engana

Mesmo quando você esta blefando

O azul sangra

Preso a um anzol de puro aço

Os olhos serpenteiam o vazio

Sem disfarçar o cansaço.

O céu em lagrimas

E o seu peito inflamando

Nenhum aplauso

Vindo da plateia invisível e insana

As nuvens fogem

Ao menor sinal de perigo

As mãos tateiam no breu

E ninguém está contigo

Amargo (Tony Lopes)

Para que se desculpar

Jurar que se arrependeu

Dizer que vai mudar

Gritar que entendeu

Para que ficar aqui

Mentir mais uma vez

E no final da noite

Fingir que nada fez

Para que se lambuzar no resto

De algo amargo e ruim

Se eu não presto para você

E nem você presta pra mim.

Asas de cimento (Tony Lopes)

Caminho contra o vento
com asas de cimento
e o sol atormenta
meu voo

Observo os crimes
os carros, as esquinas
entre tantas buzinas
estou

São casos sem precedentes
São raros sinais de amor
Estão todos perplexos                                                                            pressentindo o pavor

Explodem velhas estantes
destroem as nossas crenças                                                                            e depois só as noticias
do que sobrou

Por entre rostos sem nomes
Por entre olhos sem cor
Estão todos perdidos
Eu acho que ainda não estou

Ninguém sabe, mas eu tentei
fazer uma oração
mas agora nada faz sentido                                                                     zerou

Não quero ser mais uma rês (Tony Lopes)

Não quero ser mais uma rês

Dessa dócil boiada

Muito menos o lobo que cobiça

A ovelha parda

Não quero ser mais um tolo

Iludido no salão

Um Dos que olham para o alto

E cospem no chão

Não quero ser o rato

Que segue o flautista

Muito menos o gato

Que apenas o cobiça

Não quero ser o que você  indica

Nem seguir a sua matilha

Eu prefiro seguir meu instinto

E traçar a minha própria trilha

Dois beijos (Tony Lopes)

Troco dois beijos teus

Por uma única certeza  

Aonde eu vou

Não haverá sol

Nem beleza

Troco dois beijos meus

Por uma unica centelha  

Onde estou

Será melhor

Com você.

Sapatos do meu Pai (Tony Lopes)

Não posso calçar mais
Os sapatos do meu pai

Mas deixei o rastro
Para quem veio logo atrás

E que possa ir longe
Com passos largos e fortes

E faça muito mais
Do que eu fiz

Quando ainda era possível
Calçar os sapatos do meu pai

Seu ego (Tony Lopes)

Massagearei o seu ego

Com minha língua acida

E solicitarei em troca

O   seu       gozo            lúdico

O caos (Tony Lopes)

O caos
É um sorriso abandonado
Em um cais
Um quase aceno
Que nunca será realizado

O caos
É esse mesmo sorriso amarrotado
Jogado ao léu
Num gesto quase obsceno
E desesperado

O caos
É o risco de uma estrela cadente
No céu
De alguma boca vazia                                   E sem dentes

Amarrado (EE/Tony Lopes)

Amarrado em nome
De quem te cobra
Mas não devolve
Nem mesmo o que sobra

Abençoado em nome
De quem te usa
Te humilha
E  te acusa...

De não ter fé
Num deus errante e ausente
Que apenas berra e clama
Pelos mil alto falantes

Apontando os seus erros
E alguns parcos pecados
Que se forem bem pagos
Logo serão perdoados.

De arame farpado (Tony Lopes)

Ando vidrado
No brilho dos seus lábios
De arame farpado

Completamente alucinado
Por teu coração cercado
De arame farpado

Da trincheira
Espero o fim das bombas
Para romper essa barreira

... De arame farpado
De arame farpado
De arame farpado

Dragões (Tony Lopes)

Seguindo sombras
E vultos
Atento aos sinais
Imune aos insultos

Olhando frestas
E brechas
Ouvidos bem abertos
Pernas ágeis como flechas

Nas abstratas curvas da noite
Perigos à espreita
Miragens e assombrações
Ao dobrar uma rua estreita

Entre goles e tragos
Difícil resistir a tantas tentações
Príncipes e princesas
Transformam-se em dragões

Olhos do Et (Tony Lopes)

  Os olhos do ET
Cospem fogo e desejo
Ávidos
Vasculham as estrelas
No céu
Da sua boca louca

Os olhos do ET
Disparam setas e balas
Sem cor
Alucinados dançam
As canções
De um disco voador

O caminho fácil (Tony Lopes)

Eu poderia ter escolhido                                                           o caminho mais fácil, reto, o atalho.
Poderia ter evitado as curvas,                                                   as ladeiras, as ribanceiras.
Poderia ter me unido aos fortes,                                         aos vencedores e aos quase heróis.

Poderia ter voltado atrás no primeiro erro,                               na primeira queda, no primeiro coice.
Mas resolvi seguir a estrada                                               que eu mesmo escolhi:
A que me trouxe até aqui.

Boteco dos vampiros (Tony Lopes)

Minha igreja ainda é um velho balcão

Onde batizo a minha amargura

O álcool preenchendo a lacuna

Que me liberta dessa loucura

Com as putas sempre cobiço

Dividir algumas doses

Que me acompanhem na cama

E que nunca me ignorem

Se na madrugada são belos

Vampiros da minha alma tonta

Na luz do sol eles se escondem

E querem que eu pague a conta

São santos todos que eu venero

E os que me oferecem outro trago

Quem me acompanha na cama

Jamais quem  me causa estrago

Perto (Tony Lopes)

Estávamos tão perto
Que quase podíamos nos ver
E até sentir o aroma
Do que poderíamos ter sido

Estávamos  tão próximos
Que nossos cheiros misturados
Traziam-me de volta á lembrança
A aqueles velhos dias idos

Estávamos tão juntos
Que quase éramos únicos
Em nossas tristes ausências
E  desejos  tão  timidamente  proibidos

A cor do seu vestido (Tony Lopes)

A cor do seu vestido
Não me diz nada

Nem as suas unhas pintadas
Nem a sombra nos seus olhos

Pra mim,
O que realmente importa
São as maçãs do seu rosto:

Se elas estão rubras
Ou pálidas.

Os velhos (Tony Lopes)

Todos os velhos

São iguais por fora.

Eles trazem

As marcas do mundo

Na pele dura.

Todos os velhos

São diferentes por dentro.

Cada um deles

Traz sua própria marca

Na pele viva.

Ladrão de coração (Tony Lopes)

Fui condenado                                         Apontado
Apedrejado                                                 Insultado
Acusado                                               Afrontado
Injuriado                                             Delatado
E atirado aos cães

Mas não nego
O que fiz
Pois o meu defeito
Foi roubar UM coração                           

Peças (Tony Lopes)

Somos peças
Perdidas
De um quebra-cabeça

Somos partes
Desconectadas
De uma engrenagem

Somos fragmentos
Abandonados
De algum impacto

Somos nada
E só a sua ausência
Me completa

Sou o carnaval (Tony Lopes)

Eu sou o carnaval
Dos cordeiros, dos pedintes, dos ambulantes,                                       

dos ignorantes, dos desordeiros, dos meliantes,                       

dos malfeitores, dos  aproveitadores e dos usurpadores
Sou o carnaval dos abandonados, dos ignorados,                       

dos amordaçados e dos  pré- julgados
Eu sou o carnaval dos oprimidos, dos excluídos,                           

dos esquecidos, dos maltrapilhos
Sou o carnaval dos empresários, dos salafrários,                     

dos pseudo-astros e de seus reinados arranjados
Enfim eu sou o carnaval
De cartola e fraque
Do truque e do traque
Da música de araque
Eu sou o carnaval em cada esquina da alienação.