quinta-feira, 30 de junho de 2016

Metade (Tony Lopes)

Com a metade do meu ódio
Com a metade da minha cólera
Com a metade da minha raiva
Com a metade da minha ira

Com uma dose do meu rancor
Com uma dose da minha antipatia
Com uma dose do meu veneno
Com uma dose da minha fúria

Apenas uma lágrima
Apenas uma gota de suor
Um pedaço desta realidade
Para fazer uma revolução



terça-feira, 28 de junho de 2016

Arranco unhas (Tony Lopes)

Arranco unhas,
Dentes
& cabelos
Arranco a pele
& todos
Os excessos

Trituro ossos
Decepo mãos
Ate os olhos eu furo
Para não ver
Você se afastar
De mim

Aceito choques,
Rezas
Passes e orações
Tomo remédios
Drogas
Escuto qualquer sermão

Para não ter de extrair
O que sobrou
De você
Nas profundezas
Do meu inerte
Coração.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Dois em um (Tony Lopes)

Sem você
Não somos dois
Não somos mais
Que um
Qualquer um de nós
Dois

Sem nós dois
Não somos mais
O que fomos sempre
Tempos atrás

Agora
Apenas um
E não mais de um
O que foi
Já foi
Quando éramos dois
Dois em um.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

O cabra (Tony Lopes)


Cercado pelo exercito inimigo

Acuado tal qual um bandido

O cabra enxerga com olhos de sangue

E acha uma saída na boca da noite

 

No meio da mata no meio do nada

Procura ter fé no seu protetor

Pois sabe que é cedo para se entregar

E parte para a luta com o peito aberto

 

Ergue a sua arma sem ao menos temer

Encara o diabo que quer lhe engolir

Lembra que para o bando não há tempo ruim

E rasga sem dó a carne do opositor

 

Mais tarde por certo alguém vai lhe trair

Mas hoje a vitória veio lhe beijar

Pra uns é bandido pra outros um herói

Perder a cabeça, mas nunca se render.

terça-feira, 21 de junho de 2016

Cansado (Tony Lopes)


Cansado
De andar em círculos
De nadar contra a corrente
De ficar a ver navios

Cansado
De adorar crucifixos
De abaixar os olhos
De abraçar o vazio

Cansado
De insistir nos erros
De apertar os nós
De me enforcar sozinho

Cansado
De infringir as leis
De driblar as regras

De cagar no ninho.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

Observando (Tony Lopes)


Observando
Do fundo do poço
A luz
Parece com a do fim
Do túnel

Mas um trem
Não ousaria vir aqui.

(Continuo só e abandonado)

Não adianta  pedir socorro,
Ainda não,
Creia.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

lados da maçã (Tony Lopes)

Uma maça tem dois lados, assim como eu.
Um podre e o outro saudável.
Um certo e o outro errado.
Depende do ângulo. Ou da fome.
Depende do gosto ou do medo.
As vezes fica impossível saber qual o lado que queremos ou que somos ou que desejamos ser.
Mas sim, tenho dois lados. Os dois estão sempre equivocados. Quando escolho um é o outro que devia ser o escolhido.
Quando decido pelo outro observo que errei mais uma vez.
Nunca acerto. Nunca estou certo do que fiz.
Às vezes acredito que o erro não é meu.
Que quem está errado são os outros.
Mas o meu lado bom prefere assumir a culpa a ter de atribui-la a outra pessoa.
Isso deixa o meu lado mau muito enfurecido.
Na verdade o pior não é ter esses dois lados Tão bem definidos.
O pior mesmo é sempre optar pelo errado.
Por mais que eu tente agradar nunca consigo acertar no alvo. Nunca estou com as pessoas certas, no lugar certo, fazendo a coisa certa.
Quando estou com os bons me acham mal.
Quando estou com ou maus me acham bonzinho demais.
Então: decifre-me e escolha o seu lado preferido.

terça-feira, 14 de junho de 2016

Não haverá sol (os elefantes elegantes /Tony Lopes)

Amanhã não  haverá   sol
Amanhã não  haverá  som
Amanhã          não   haverá
Amanhã          não   haverá
amanhã

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Maverick (Tony Lopes)



O maverick rasga a estrada
Alucinado
Cortando sem dó à distância

Risos e lágrimas ainda ecoam
Acelerado ele vai
Queimando óleo e emoções

O maverick derrapa na estrada
Embriagado
Das saudades que lhe apavoram

Riscos de pneus na curva fechada
Desgovernado ele se foi
Deixando ali a última lembrança.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Sem desculpas (Tony Lopes)


Desculpa não é cuspe
Fez merda tem de assumir
Desejo boa sorte
Mas não tente se esconder assim

Desculpa não é band-aid
Feriu o melhor é sangrar
Cobiço que o corte
Deixe tatuada uma cicatriz em mim

Seja rápido com seu ataque
Com seu jeito de cascavel
Antes que a morte

Preencha sua boca com um gosto ruim

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Semiaberta (Tony Lopes)


Só desprezo

E algumas roupas sujas

Foi o que sobrou

Do nosso desencontro

 

Agonia

E alguns delírios

Dores que se espalharam

Suavemente

 

A porta está semiaberta

Mas não vou sair...

 

- Mesmo que esperar
Seja a minha pior aposta
 

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Lado de baixo (Tony Lopes)

O meu lado podre é cego
Como uma faca enferrujada
Não mata
Não corta
Não serve para nada

O meu lado nobre é doce
Como uma goiabada
Acalma
Aplaca
Uma vida tão salgada

Assim como um pão que cai no chão sujo
Com o lado da manteiga virado para baixo
Sigo saboreando todas as sutis diferenças

Dessa minha amável dupla personalidade

terça-feira, 7 de junho de 2016

Parece festa (Tony Lopes)


Tensão
O desejo aflora
Como brasa
Na fogueira

Tesão
O gozo agora
É uma brisa
Passageira


Fogos iluminam a noite

Parece festa de são joão

Para mim só outra noite

Só mais uma explosão

 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

O coração de Jesus e Maria (Tony Lopes)

Coração bomba!
Distorção
Microfonia
Combustão
 
Sussurros de Jesus e Maria
Ecoando nos amplificadores  
 
Coração farpado!
Sublimação
Linha tênue
Contramão
 
Honey,  oh Honey
Este é o corte final
Reverberando.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Vá à luta (Tony Lopes)

Arranca a roupa
Que esconde a tua liberdade
E vai a luta

As ruas camuflam
O que deveria estar exposto

E se gritarem e te apontarem
Simplesmente não escuta

Arranca a raiva
Que açoita a tua liberdade
E te deixa oculta

As ruas abrigam
O que não deveria estar exposto

E grite e aponte

O caminho que condiz com sua luta

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Cheiro (Tony Lopes)


Guardo os cheiros
Que não  sinto   mais
Em pequenos  frascos
 
 
 
Guardo os aromas
Que não  lembro  mais
Em    velhos      abraços

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Mesmo chão (Tony Lopes)


 

No mesmo chão que você pisou

E que tantas vezes deitou e rolou

No mesmo chão que você cuspiu

E tão solenemente me ignorou

 

É nesse chão que hoje eu como

E às vezes até rastejo

Aonde vago desamparado

É nele onde eu ainda te desejo

 

Nesse chão que muitos pisam

E tentam ocultar os seus passos

Nesse chão que os cães mijam

Mas não apagam meus fracassos

 

É nesse chão que ainda espero

Alguma lagrima de piedade

Dos olhos que nunca enxergaram

Que o meu amor não é covarde