quarta-feira, 30 de setembro de 2015

O amor amanheceu só (Tony Lopes)

Amnésia e dor
O amor amanheceu só
Sem vestígios de ontem
Sem os raios do sol

Anestesiado
O amor continuou só
Abandonado
Aquecido apenas pelo lençol

Angústia e torpor
O amor triste e só
Sem esperança de amanhã
Voltar a ser melhor

Abestalhado
O amor não vive só
Acostumado que está
A sofrer sem dó

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Agulha no palheiro (Tony Lopes)


Somos carros
Ônibus
Motos e bicicletas
Pedestres
Somos passageiros
Parados
No centro do formigueiro
Atônitos
Anônimos ou presepeiros
Esperando
Ser enfim o primeiro
Somos trens
Metrôs
Do subúrbio
E do mundo inteiro
Somos passagens
Bagagens
Cobrador ou o baleiro
Aguardando o troco
Do nosso suado
Dinheiro
Somos milhões
De ilusões
Sem solução
Uma agulha no palheiro.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Novos ventos (Tony Lopes)


Ando meio perdido e um pouco distraído
Talvez por receio de fazer o que já foi decidido
 
Ando meio displicente e um tanto indiferente
Talvez por temer o que sempre desejei imensamente
 
Por isso passo os dias a esperar que a noite traga novos sonhos
E no outro dia ao acordar eu possa me encarar mais risonho
 
Mas eu sei que apenas o tempo pode acalmar uma tempestade
Pois os ventos que a trazem também irão lhe afastar mais tarde.

 

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Não Ria (Tony Lopes)


Não ria ainda
Não pense que é fácil
Não ria querida
Não pense que sou dócil

Não pise ainda
Não pense que sou capacho
Não ouse querida
Não use o seu salto alto

Não corra ainda
Não pense que terminou
Não corra querida
Não fuja do que nem começou

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Desejo (Tony Lopes)


Desejo que não tem asas
Vive confinado a dor
E solitário persegue
O que nem ousa sonhar

Desejo que não tem casas
Vive desabrigado
Encarcerado na solidão
Vítima do seu medo

Desejo que não arde em brasas
Vive sem fagulhas
Apagando com lágrimas
O fogo que lhe consumiu

Desejo sem ação
É uma estrela sem brilho
Oculta entre tantas
De uma imensa constelação

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Cidade sem futuro (Tony Lopes)


 

Vivo na cidade semidestruída

A procura do inicio do conflito

Da primeira casa erguida

E daquele primeiro grito aflito

 

Vivo nos escombros da luxuria

Com suas praias asfaltadas

Prédios seculares desfigurados

E as ruas sempre alagadas

 

Vivo na cidade sem futuro

Que esqueceu impunemente do passado

Sitiado pelos pesadelos

Pagando caro por velhos e novos pecados

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Ruídos & silêncios (Tony Lopes)

 Ruídos & 
sorrisos
Entrecortados
De silêncios & lagrimas

Os pregos
Enferrujados
Nos pulsos

Os olhos
Sangrando
Sem curso

Tolos perdidos

Todos perdidos


E sem salvação
E sem salvação.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Altar (Tony Lopes)


O mar
É o altar
Do pescador.
Amar
O altar
Do sonhador.
 
A flor
É o altar
Do pecador.
A dor
O altar
Do sofredor.
 
Para onde olham os seus olhos
Quando querem orar?
Onde você dobra os joelhos
Quando precisa rezar?

 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

De mãos dadas (Tony Lopes)


 

De mãos dadas com o inevitável

Sigo o meu caminho

Sem me importar com risos cínicos

E comentários maldosos

 

Tenho alguns temores, é certo,

De que alguém não compreenda

Os meus atos tão hostis 

E de ter tamanha coragem em seguir

 

Sei que posso numa noite qualquer

Em alguma rua mal iluminada

Ser covardemente espancado ou assassinado

Abandonado a minha própria sorte

 

Mas não abrirei mão do meu direito

De ser e fazer o que quero

E continuar tropeçando nas certezas

E nos mesmos equívocos de sempre

 

De mãos dadas com o inevitável

Sigo enfrentando os que me olham atravessado

Com seus preconceitos e fobias

Porque eu sei que são eles os errados.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Muitos planos (Tony Lopes)


Eram muitos planos

E alguns projetos

Todos muitos plenos

Quase que completos

 

Tive que guarda-los

Longe dos meus olhos

Longe do meu peito

Sempre tão aberto

 

Eram tantos sonhos

Alguns bem secretos

Uns até risonhos

Outros mais discretos

 

Tive que aborta-los

Como se fosse um feto

Como se de fato fosse

Inútil e Incompleto

 

 

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Olho do poeta (Tony Lopes)


Sangue no olho do poeta

A poesia agoniza na praça

Sangue na folha em branco

Amar perdeu a graça

 

Raiva no olho do poeta

A poesia jaz na praça

Raiva largada no chão

Ignora só de pirraça

 

E o venta espalha no ar

Palavras vãs

Restos do que não há

Nas manhãs

 

Tristeza no olho do poeta

E desesperança

A dor adormece a mingua

Na fome da criança

 

E o tempo passa batido

Sem deixar rastros

As linhas em branco atestam

O sentido exato.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Fisgados (Tony Lopes)


 Meus olhos
Foram fisgados
Por um poste

Triturados
E arremessados
No infinito do asfalto

Estilhaços
Da lucidez
Misturados com sangue

E a certeza
Que a dor
Estacionou ali no meio-fio

Acenderam a luz do fim do túnel
Mas o sinal estava vermelho

... Agora os meus olhos
Estão mudados
Aposte!

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Flores (Tony Lopes)


Flores
O asfalto arde em vão
E nada vê
E nada vai e nada vem
 
Flores
O assalto não é invenção
Ninguém vê
Ninguém quer ver nada
 
Flores
O salto na contramão
Um impacto
E um corpo jaz no chão

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Lagrimas & milagres (Tony Lopes)


Não espere lagrimas

Nesta terra devastada

Nem ilusões

Que sempre nos levam a nada

 

Não espere lagrimas

Destes olhos cansados

Nem visões

Que apontam para todos os lados

 

Milagres

São como lagrimas

Que caem

Mas não resolvem nada

 

Lagrimas

São como milagres

Que vem

Mas não nos mudam em nada

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Quem tem um olho é rei (Tony Lopes)


Tantos bandidos

Tontos que são

Não sabem de nada

Ou fingem que não.

 

Tantas promessas

Todas em vão

Dizem que salvam

Mas não salvam não

 

Atenção, aqui quem tem um olho é rei.

 

Essa é a lei

Esse é o sermão

Fazem-se de santos

Mas não são não

 

Tantos espertos

Nenhuma culpa então

Juram inocência

E negam a acusação

 

Cuidado, aqui quem tem um olho é rei.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

De pombos e praças (Tony Lopes)


 

Os bancos da praça estão vazios

Nem os pombos apareceram desta vez

Para assistir o espetáculo do ócio

Que se camufla de dor e silencio

 

Os mesmos restos dos milhos  

As mesmas testemunhas de pedra

Parecem sinais indecifráveis

Que se perpetuaram no chão sem cor

 

Nenhuma alma penada

Nenhum sinal de lucidez

Nenhuma pessoa assustada

Nenhum ato de sensatez

 

E seguindo o rastro do sol que se põe

Com os olhos fincados na ilusão

Procura ouvir os sons que a memoria

Insiste em dizer que não existem mais.