sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Banco (Tony Lopes)


 

Todos precisam de um banco

Os velhos para sentar

Os jovens para roubar

Um coração

 

Todos precisam de um plano

Os velhos para lembrar

Os jovens para tentar

Uma revolução

 

E na praça cheia de pombos

E estatuas nuas

Todos podem passar

Ou ficar na sua

 

Todos precisam de um ganho

Os velhos para curar

Os jovens para detonar

Uma alucinação

 

Todos precisam de um engano

Os velhos para continuar

Os jovens para acelerar

A emoção

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Pão e agua (Tony Lopes)


Eu acredito no seu silencio

Eu acredito na sua ausência

Está tudo dito e amplificado

Tudo escrito e fotografado

 

Eu acredito no teu discurso

Eu acredito na tua crença

Está tudo muito bem explicado

Tudo despoluído e filtrado

 

Se dessa agua eu beberei

Beba dela você também

Se esse pão eu dividirei

Coma a sua parte e diga amém.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Tão tudo (Tony Lopes)


Tão rápido
Que nem passou
E já foi
Tão curto
Que não cobre
As pernas
 
Tão murcho
Que não enche
O saco
Tão torto
Que não acerta
O alvo
 
Tão tolo
Que não percebe
O acerto
Tão lindo
Que não vale
Uma piscada
 
Tão inteligente
Mas não entendeu
A piada.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Não gosta (Tony Lopes)


Você não gosta de mim. Ponto.

Simples assim.

Para que fingir?

É bem mais fácil admitir:

Não gosta

Não gosta

E não gosta.

 

Mas não se preocupe

Eu também não gosto de você

Nunca gostei

Sou tão falso quanto você

E para facilitar vou admitir:

Não gosto

Não gosto

E não gosto.

 

Pronto, falei. Ponto final

 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Notícias boas (Tony Lopes)


Espero notícias
E que sejam boas
Me cansei da tristeza
Que sempre ecoa
 
Espero notícias
E que sejam alegres
Abusei desta angustia
Que me persegue
 
Não tenho pressa
Eu posso esperar
Que elas venham
Que elas possam chegar
 
Espero notícias
E que sejam suaves
Desejo de verdade
Que voem como as aves
 
Espero notícias
E que sejam certas
Para encontrar o alvo
Das novas descobertas.

 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Antropofagia (Tony Lopes)

 
Sou feroz
Eu devoro quem me devora 
Sou brutal
Mas só devoro quem me devora
 
A tua espécie é a minha espécie
A minha espécie é a tua espécie
 
Eu te adoro, por favor, me adore
Implore que eu também imploro
Imploro que você também implore
Me devore que eu te devoro
 
Antropofagia/Canibalismo
Canibalismo/Antropofagia

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Frascos (Tony Lopes)


Nos frascos vazios

Está a esperança dos oprimidos

Que deliram

Com seus desejos reprimidos.

 

Opacos e frios

Aqueles velhos comprimidos

Apontam

A direção para os escolhidos.

 

Luzes piscam

E o carro corre

A noite nasce

O medo morre.

 

O pulso acelera

A dor aflora

Ninguém espera

Chegou a hora.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O alvo (Tony Lopes)

A violência estupra a paciência
E destrói a calma
Bombas explodem com insistência
Sem escolher o alvo

Vitimas e algozes juntos
Brigam pelo mesmo chão
Sem saber o que lhes move
E nem mesmo qual a razão.

A ignorância estupra a inteligência
E desfaz os planos
Livros rasgados pela intolerância
Sem se importar com os danos.


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Fãs & vãs (Tony Lopes)


Somos todos fãs

Da luxuria e do pecado

Fãs

Do incerto e do equivocado.

 

Somos todos vãs

Frívolos e depravados

Vãs

Dementes e desamparados.

 

Às vezes

Uivamos para a lua

E vagamos nus

Nas madrugadas frigidas

 

Noutras, perdidos

Apenas enchemos a cara

E choramos

Lagrimas de puro malte.

 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Pequenos (Tony Lopes)


São detalhes

Que se perdem

Nas curvas da estrada

Imperceptíveis sinais

Adormecidos

Além do horizonte

 

Sutis

Assim como as canções

Que um dia

Desejei fazer.

 

 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Descompassos (Tony Lopes)

 
No descompasso
Da minha dessimportância
Sigo em frente
Trôpego e sorridente
Com a incerteza
Dos meus passos
 
Atravesso ruas e veias
Com os olhos úmidos
E a sede dos que choram
Não sou ninguém
Mas não desisto de ver
O que meus sonhos imploram
 
Atrás das janelas
Elas espiam
O meu vulto
Enquanto sigo
Cada vez mais certo
Do que quero

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Pule (Tony Lopes)


Fecharam todas as portas
Agora só há uma saída
Faça as suas apostas
Esqueça-se da sua vida
Pule pela janela
Salte com rapidez
Antes que eles tranquem
A sua pobre lucidez.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Cemitério de elefantes (Tony Lopes)


Tristeza não é doença

Mas mata vagarosamente

Com requintes de crueldade

E a sutileza dos elefantes

 

Por mais que se procure

A cura para essa crença

A dor de uma saudade

Chega sem pedir licença

 

E se na noite é o frio

De dia é o calor

Sempre em hora errada

Sempre para se opor

 

Tristeza não é doença

Mas maltrata o coração carente

E encaminha o sofredor

Para o cemitério dos elefantes

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A porta (Tony Lopes)


Primeiro apague a luz

Depois vire para o outro lado

Sem escutar as batidas do meu coração

Ao menos nessa noite não.

Sonhe com o passado

Mesmo que não sirva para mais nada

Quem sabe amanhã

O galo irá te acordar na hora errada.

 

E se ao despertar no novo dia

Nada parecer perfeito como era

Enxugue as suas lagrimas

Porque o tempo não espera

Caminhe decidida de salto alto

No silencio vazio do velho quarto

A porta que deve ser aberta

No fim se mostrará a certa.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Inconsequentes (Tony Lopes)



Preocupado com as consequências

Dos seus atos inconsequentes

Sigo a risca o estipulado no contrato

Onde assumo o prejuízo

Pelo inesperado rumo dos fatos.

 

Desesperado com as consequências

Dos seus traços inconsequentes

Sigo o risco que delimita o espaço

E me atiro sem ressalvas

Nas retas e curvas do seu descompasso.

 

Planejo enfim o esboço do seu pesadelo

Para edificar um porto seguro

Onde possa ancorar os sonhos e desejos

Ainda que não consiga alterar o seu futuro.

 

 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Na lista (Tony Lopes)


Sempre incluído
Na lista dos excluídos
Sempre preferido
Na lista dos indesejáveis
Sempre elogiado
Na lista dos derrotados
Sempre lembrado
Na lista dos desprezíveis
Sempre presente
Na lista dos que não vão
Sempre ausente
Na lista dos que irão
Sempre recomendado
Na lista dos piores
Sempre procurado
Na lista dos desaparecidos
Sempre admirado
Na lista dos ridículos
Sempre excluído
Na lista dos seus amigos.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Um olho (Tony Lopes)


Um olho apenas
E a certeza
Do que pode ser visto
Pelas frestas
Da vida.
 
Um olho apenas
E a certeza
Do que não pode ser visto
Pelas frestas
Da vida.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Um copo (Tony Lopes)


Um copo cheio de ódio

Uma dose de rancor

Repousa cheio de medo

Repleto de pavor

 

Um copo cheio de ócio

Uma ode ao horror

Vazio guarda um segredo

Exalando o seu odor

 

Um copo e um corpo caído

Vidro, sangue e um corte

Na face o reflexo do traído

No chão o rastro da morte.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Encontro às escuras (Tony Lopes)


A estupidez lambe

Deliciosamente

Os lábios

Escrota que é

Ri da desgraça alheia

E segue bailando

Tal qual uma prostituta

Que busca nas sombras

O seu algoz.

 

E eis que ele surge

Elegante e traiçoeiro

Com seu jeito de herói

Seus olhos frios e cruéis

E o sorriso maroto

Digno do tremendo cafajeste que é.

 

- no fim da noite eles haverão de se entender (por bem ou por mal)

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Tiro no pé (Tony Lopes)


 Quando penso que acertei na mosca
Dei um tiro no pé
Quando vejo tudo assim meio fosco
Mais cores que o arco íris atè

Quando acho que acertei o foco
Fotografo tudo feio
Se cruzar o viaduto da sé
Me canso antes do meio

De verdades eu não entendo
Nas mentiras eu não creio
Procuro me esconder na multidão
Mas só me acho no seu seio

De nobreza eu nada tenho
Bobo da corte sem axé
Me distraio nas entrelinhas
Onde abstraio a minha fé